Eu tenho uma prima chamada Laura.
Era véspera de Natal, por volta de 11 horas da manhã. Sol em Brasília, escaldando a Asa Norte. Minha então mulher, duas de suas irmãs e o irmão ainda dormiam. Tinham vindo passar as festas conosco e a conversa estendera-se até tarde na noite anterior.
O porteiro toca o interfone e anuncia que Laura quer subir. Minha prima mora no Rio, seus pais em Brasília, mas como é aeromoça, nunca se sabe em que cidade ela está. Laura e eu somos próximos, e ela veio fazer uma visita surpresa, já que é Natal etc e tal.
Quando atendo a porta, não é Laura. É outra loura. Também bonita. Bem bonita.
- Leo? - ela pergunta.
Vocês sabem que eu sou Leandro. Como o finado da dupla. Mas tenho vários amigos que me chamam de Leo, talvez para contornar a eterna confusão que fazem entre nós e os leonardos.
- Bem, na verdade, eu sou Leandro. Mas posso ser Leo. Muita gente me chama assim.
- Eu sou Laura.
- E?
- Foi você que chamou a massagista?
Olhei bem para o corpo dela, marcado pela roupa justa, e quase voltei a acreditar em Papai Noel. Mas lembrei de todos os que estavam dormindo em casa.
Gentilmente, esclareci que deveria ter havido alguma confusão, o porteiro deveria ter me confundido com outro felizardo, digo, morador, e assim, lamentavelmente, eu me via obrigado a declinar do presente, da presente, sei lá, àquela altura eu já estava em dúvida até sobre qual é o meu nome.
Laura sorriu simpática e desculpou-se, ligeiramente envergonhada pelo engano. Uma vergonha charmosa, que só as putas são capazes de sentir.