domingo, 12 de outubro de 2008

Força sempre


Junto com a vontade, eu tinha certo pudor ou receio de assistir a “Renato Russo – a peça”. Porque Renato Russo é um dos meus deuses e enquanto esteve vivo compôs ou cantou muitas das canções que fizeram parte da trilha sonora da minha vida. E de mais um monte de gente da minha geração. Eu tenho tudo o que ele gravou e assisti a vários shows da Legião Urbana, em todas as suas fases. Então, pensava, para que ver o cover?

Mas a curiosidade falou mais alto e também os comentários elogiosos que ouvi desde que a peça estreou em 11 de outubro de 2006, data em que se completava 10 anos da morte de Russo. Esta já é a terceira passagem do espetáculo pelo Rio e ela foi sucesso também em várias cidades do País. Por pura coincidência, que só percebi depois, fui assistir em 10 de outubro de 2008.

A peça é realmente ótima. Bruce Gomlevsky incorpora muito bem as facetas do Renato Russo genial, sensível, inteligente, arrogante, solitário, sonhador, auto-destrutivo, líder, corajoso, temperamental, confuso, generoso, crítico, culto, dramático, messiânico, assustado, romântico, cético, criativo, empreendedor. Enfim, um Renato humano e pleno de energia e contradições. Como nós.

Esta foi sempre a grande virtude de Renato, que o tornou um dos mais importantes poetas da música brasileira. A capacidade de contar em suas canções a sua história. E a sua história era a nossa. Ao ouvi-lo, a gente pensava: “Porra, este sou eu!”

A peça tem roteiro bem costurado, embora no final dê uma acelerada e pule coisas & canções de alguns dos últimos discos. No final também, o texto dá uma resvalada no piegas, mas tudo bem, Renato era mesmo dramático. Bruce Gomlevsky dá um show de interpretação e eu não sei se, quando acabar a carreira do espetáculo, ele vai saber ser simplesmente Bruce de novo. A banda Arte Profana, que o acompanha ao vivo nas 22 canções, manda bem, a direção do espetáculo é precisa, o figurino é ok e a luz é excelente. E ainda há o contra-regras de cabelo moicano.

A platéia entra na onda e canta junto várias das canções. Em todos os encartes de seus discos, Renato escrevia Urbana Legio Omnia Vincit (A Legião Urbana a tudo vence) e Força Sempre. Foi ótimo constatar que suas canções continuam a ter a força de sempre. E continuam a vencer o tempo, o esquecimento, a morte.

Renato Russo foi embora muito cedo, aos 36. E eu dizia ainda é cedo também para a peça encerrar sua carreira. Se você ainda não viu, corra. Até 19 de outubro no Teatro João Caetano, no Rio. Saí de lá, alma lavada, renovado.

Se quiser saber mais sobre Renato, ouça seus discos. Todos. Muitas vezes. E leia “Renato Russo: o trovador solitário”, o livro que o jornalista Arthur Dapieve escreveu para a série perfis do Rio. A edição é da Relume-Dumará, 2000.

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