terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Yes, we can

Reproduzo a seguir trechos da coluna Panorama Econômico, escrita pela jornalista Miriam Leitão e publicada em 18/01/2009, sob o título “O dia após amanhã”.

“Já seria difícil ser o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Ele seria mais cobrado, mais fiscalizado. Mas Barack Obama assumirá a Casa Branca na pior conjuntura econômica possível. Não é apenas uma recessão, como Bill Clinton enfrentou e venceu, mas a pior desde 1929. A recessão não está acabando, como na época de Franklin Roosevelt. Ela mal começou.

Quis a História — que suprema ironia! — que um momento tão esperado fosse também o mais difícil. Que o presidente do qual se cobraria mais desempenho, tivesse que ter mesmo um desempenho excepcional, porque qualquer coisa abaixo disso será o fracasso.

Sempre se criam expectativas diante de um novo governante, principalmente quando vem após um período desastroso, como é o caso, e teve uma eleição consagradora, como também é o caso. Mas as expectativas que caem sobre Barack Obama não são racionais. Ele terá tarefas demais, despertou sonhos demais, há urgências demais. Quando a mudança de governo acontece nos Estados Unidos, o mundo inteiro presta atenção. Desta vez, a atenção é maior. Virou ansiedade, porque a crise econômica, nascida lá, virou global.

Na economia, as coisas vão piorar nos primeiros meses do governo Obama. A recessão vai se aprofundar, o desemprego, crescer, o déficit público vai se ampliar, o risco de deflação ficará mais presente. Pela inércia dos fatos econômicos, tudo isso foi contratado pelo governo Bush; é herança. (...)Desfazer todos os nós será tarefa de anos. Mas, ao fim dos primeiros seis meses, a piora parecerá obra de Obama. É da natureza das sociedades democráticas, e abertas a cobrança sobre os governantes, a impaciência na espera dos resultados.

Uma crise dessa envergadura não se inverte rapidamente. As recessões têm um prazo mínimo. São como uma onda que não se consegue interromper no meio.

Ele é negro e isso abre uma nova dimensão de expectativas e de cobranças. (...)Para negros do mundo inteiro, inclusive os brasileiros, que são metade da população, o sucesso de Obama terá um valor inestimável na recuperação da auto-estima, na certeza íntima que cada um poderá construir de que o horizonte das possibilidades se ampliou.

Há urgências para além da economia. Na questão ambiental e climática, (...) tudo o que fez e falou até agora tem o frescor de uma nova abordagem. Ele pretende unir três desafios, energia-economia-clima, num ataque só.

(...)Na área internacional, o quadro também não poderia ser pior. Obama assume no meio de uma escalada das tensões no Oriente Médio. (...) As guerras do Iraque e do Afeganistão ainda não têm um fim à vista, e uma de suas promessas foi a de retirada segura das tropas do Iraque. (...) O terrorismo baseado no Paquistão tem feito novas investidas, e Obama tem que encontrar respostas novas e eficientes para o mais complexo desafio de política internacional.

(...) Nada será resolvido rapidamente, e as frustrações serão inevitáveis. Sobre a devastação da era Bush será difícil construir uma nova arquitetura de relações internacionais, iniciar uma recuperação econômica, mudar a política climática. Mas ninguém melhor para tentar isso do que um líder que chega com a força dos votos dos eleitores americanos, a bandeira da mudança e a torcida do mundo.”

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