São 1h37 da madrugada de domingo e ela, sozinha, fuma e toma
lentamente um chopp que esquenta rapidamente num restaurante da orla de
Copacabana nessa noite morna sem lua. Tem uns cinquenta e muitos anos e está
arrumada, maquiada com algum excesso, brincos grandes, pulseiras douradas,
colar de bijoux, vestido preto, cabelos
tingidos de louro pra disfarçar os fios brancos que denunciam a idade. Em vão.
Pescoço, pés de galinhas e mãos delatam.
Faz tempo – uns três anos, pelo menos – que não sabe o que é
um homem. E ela queria muito chupar um pau esta noite. E ter mãos firmes que a
tocassem com vontade, que lhe trouxessem de volta orgasmos distantes, mas não
esquecidos. Não tem sido fácil. Em suas incursões pelo vazio das noites, ela,
vez ou outra, conversa com algum solitário. Mas todos têm sido invariavelmente
desinteressantes. Grosseiros, quase rudes, barrigudos, calvos, que fazem
galanteios diretos demais, baratos como
rosas murchas de vendedores ambulantes. Gente que desanda a falar mal da
ex-mulher que lhe tira uma fortuna de pensão e de filhos problemáticos.
Ela mesma sobrevive com a pensão – não uma fortuna – que
recebe do ex-marido que lhe deixou por outra, mais jovem, uma divorciada com duas
crianças, e com um salário modesto de funcionária pública de quinto escalão da
prefeitura. Aluga um pequeno apartamento ali mesmo em Copa em um prédio antigo,
feio e mal cuidado. Poderia estar roubando, matando, mas está ali. E esta já é
uma piada velha dos vendedores de balas dentro dos ônibus que ela pega
diariamente até o Centro.
Ela está ali. Recusa-se a aposentar o desejo. Nada de acomodar-se diante da televisão, de
vestir sandálias baixas da linha Comfort, e cuidar de netos. Até por que sequer
teve filhos com o ex-marido. Compra
roupas que emulam elegância e qualidade nas lojas populares escondidas nas
galerias do bairro. Não têm bom caimento, mas disfarçam razoavelmente as
imperfeições que a idade e a gravidade impõem ao corpo. Ela luta contra,
fazendo ginástica numa academia modesta perto de casa.
Ela está ali, olhando o movimento na calçada, a diversificada
fauna noturna, àquela altura com interesse pouco maior do que a indiferença à televisão sem som suspensa no restaurante. Dado o avançado da hora, pressente sem
dificuldade que seu jejum não se encerrará hoje.
Tudo bem, está habituada ao zero a zero. No próximo fim de semana, estará de volta, com
o mesmo fiapo de esperança. Ela só quer, como quase todo mundo, encontrar
alguém legal pra ficar. Um coroa bacana que a leve para jantar, para viajar, ao
teatro. Um homem gentil. Ainda haverá
algum? Ela está ali. Seu mérito maior é tentar.