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domingo, 21 de junho de 2009

Canudo largado




Nesta semana, o Supremo Tribunal Federal, em decisão que atende mais aos interesses dos empregadores, acabou com a necessidade do diploma de curso superior para a profissão de jornalistas. Percebi em vários deles, com quem convivo (a começar por minha mulher, jornalista), uma certa sensação de desprestígio, desvalorização, rebaixamento.

Bem-vindos ao clube, meus caros. Nós, publicitários, oferecemos nosso abraço solidário porque, para fazermos os nossos reclames, para seduzirmos a coitadinha da sociedade a servir ao demonizado consumo desenfreado, nunca precisamos de diploma. Besteira isso, nem para ser presidente é preciso diploma.

Entre nós, comunicólogos, apenas os Relações Públicas ainda mantém a exigência do diploma e o registro no conselho da categoria para o exercício das suas atividades, que os maldosos injustamente reduziriam para Recepção e Portaria em eventos e salamaleques cerimoniais. Mas, cuidado, que o Gilmar vem aí. O Ministro alegou que o diploma cerceia a liberdade de expressão (mas a internet já chutou esse limite) e que a prática do jornalismo não é tão danosa, caso ocorram erros, como a medicina ou a engenharia. Argumento fraquinho, porque a imprensa pode destruir reputações. Mas, me explica, se a imprensa é tão inofensiva, por que ele volta e meia reclama dela?

Pode ser que subliminarmente haja na derrocada do diploma uma apologia à ignorância, ou à irrelevância do estudo. Afinal, vivemos, com o acesso às tecnologias, uma era de amadorismo. Somos todos produtores de conteúdo. Bem ao estilo punk, com o mote Do it yourself, que sacudiu o rock em meados dos anos 1970.

Um olhar atento mostra que os espaços mais nobres dos veículos de comunicação são ocupados – e não é de hoje - por articulistas não egressos da faculdade de jornalismo. Por isso, não se desesperem, jornalistas. Não vai mudar muita coisa.

Honestamente, eu acho que jornalistas, publicitários e RP não precisam de diploma, não. Não de seus respectivos cursos. Mas penso que precisam de um diploma universitário. Jornalismo poderia ser um curso de extensão. Depois de ter uma graduação em qualquer área, faz-se um ou dois anos de jornalismo.

Precisamos mesmo é de uma sólida formação em ciências humanas e sociais: antropologia, sociologia, filosofia, psicologia, história, teoria da comunicação etc. E claro, pleno, eu disse pleno, domínio da língua portuguesa. Ética e cultura geral também são indispensáveis, mas nem sempre a escola é o melhor lugar para obtê-las. Da mesma forma que é lendo muito que se aprende a escrever bem.

Há uma visão corrente e equivocada de que jornalismo é tão somente um amontoado de técnicas. Como escrever um lide, como editar umas imagens, como falar diante das câmeras. Como se a profissão se resumisse à produção de uns textinhos ralos ou videozinhos de minuto e meio sobre os desvarios do Senado, o mais recente crime hediondo ou o último escândalo da celebridade para publicar num site. Jornalismo também requer pesquisa, investigação, aprofundamento, estudo, não apenas sobre a pauta, mas também – e muito - sobre o próprio jornalismo que deve ser objeto de reflexão na academia. Que jornalismo é feito hoje, nesses tempos de culto ao vulgar, ao fugaz, ao raso?

Quanto ao diploma, precisar não precisa mais. Mas é fortemente recomendável. Eu nunca achei que devesse rasgar meu diploma de bacharel em comunicação social, com habilitação em publicidade e propaganda. Ele pode ser desnecessário, mas nunca foi inútil.