terça-feira, 30 de julho de 2013

O silêncio de cada um

Mal se sentam à mesa ao lado e os dois jovens casais pedem à garçonete que fotografe seus sorrisos congelados em momento de euforia fabricada para consumo externo.  Click feito, foto postada nas redes sociais imediatamente.  Os quatro então se voltam para seus smartphones por vários minutos. O silêncio é interrompido quando uma das mulheres comenta que já tinha cinco curtidas na foto. E voltam a mergulhar no cristal líquido das telas. A interação é essa, virtual.

Não difere muito da nossa, real. Permanecemos calados observando o movimento ao redor e cortando o silêncio com pontuais comentários ácidos.

Ao mirar o espelho, eu faria um sobre a melancolia dos casais antigos.


Mas preferi calar.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Homenagem

No dia que seria aniversário do finado marido, a viúva transou febrilmente com o atual.
Ciente da simbologia da data, ele não sentia o orgulho dos vencedores. Incomodava-se por ela lembrar-se do falecido, da forma que fosse, em qualquer ocasião.
Se era pra ser uma espécie de homenagem, era do tipo que não agradava plenamente a ninguém. Nem à própria viúva, que preferia mesmo um ménage com os dois, o morto e o vivo, se ainda o fosse.
No passado, sonhara secretamente com isso, mas sabia que se lhes houvesse proposto o sexo a três, hoje haveria um viúvo.