O idoso escolhe sua mesa favorita, no canto do salão, e pede
o vinho de sempre, que hoje “tem, mas acabou”.
Conversa com desenvoltura com dois garçons denotando intimidade de
habitué.
Com uma folha de papel, faz flor e entrega a uma das quatro jovens,
colegas de trabalho, que almoçam na mesa ao lado. Elas agradecem a gentileza. Ele explica que é uma “técnica japonesa
chamada origami” e que é capaz de fazer girafa, coelho e outros bichos.
Após curto intervalo, ele puxa assunto, estilo veterano
galanteador de segunda .
- Vocês trabalham nas imediações? (caramba,
ele usou a palavra “imediações”!)
- Sim, numa empresa do outro lado da rua.
- Empresa de quê?
- Empresa de comunicação.
- Eu tenho um amigo que tem um escritório naquele prédio. Eu já tô velho, aposentado...
E por aí vai. As moças respondendo delicada, mas
laconicamente, às investidas. Não queriam ser grosseiras, mas estão
interessadas em conversar entre elas.
Ele então fala dos cinco filhos e seis netos e mostra fotos.
Elas elogiam: “Família bonita”.
Com o passar do tempo, e o nítido desinteresse das moças educadas em esticar a conversa,
ele capitula e pede a conta, quase ao mesmo tempo em que eu termino o meu filé.
Eu também almoço sozinho. A solidão pode ser ruim. A velhice
é pior ainda.
Como diz um amigo sexagenário: “envelhecer é bem diferente
de viver”.