sábado, 8 de outubro de 2011

Eu não fui. E não vou mais.

Perdi o timing jornalístico e escrevo sobre coisas que aconteceram há uma ou duas semanas. Ou seja, velhíssimas. Como eu estou ficando, já que capitulei e comecei a usar óculos para vista cansada. Tornei-me assim, inapelavelmente, um tiozão.


Por outro lado, algum distanciamento temporal pode nos permitir maior lucidez ao comentar assuntos fora do calor da hora.

E o tema é Rock in Rio. Ou Pop in Rio, como preferem alguns detratores puristas inconformados com a miscelânea nem sempre de bom gosto da escalação das atrações. Eu mesmo continuo achando inconcebível um festival que leva esse nome ter Cláudia Leite e Ivete Sangalo na programação. A Cláudia pelo menos é gostosa, embora, reconheço, este também não seja um critério musical. “Rock” com Ivete é tão esquisito como o “in Rio” em Lisboa ou Madri.

Toda honra e toda glória ao Sr.Medina que com a megalomania do Rock in Rio inseriu o Brasil no circuito internacional. Minha carreira de espectador de shows começou em 1982, com Peter Frampton, no Maracanãzinho. No ano seguinte, Kiss no Maraca. Naquela época as opções não eram tantas. E na maioria das vezes o Brasil só entrava no roteiro de astros decadentes.

Por justificáveis razões mercadológicas, estranhos no ninho do Rock fazem parte da escalação desde o primeiro festival. Naquele longínquo 1985, havia Al Jarreau, o açucarado e insosso James Taylor, Elba Ramalho. Em outras edições, teve New Kids On The Block, A-ha e Carlinhos Brown entre outros disparates. Enfim, são exemplos de que o festival nunca foi exclusivo dos roqueiros.

Como lhes disse, envelheci. E não tenho mais saco para muitas coisas. A gente se torna mais seletivo. Eu não fui ao Rock in Rio deste ano. E desisti antes mesmo de conhecer a escalação, com o perrengue para comprar ingressos. Eu até (re)veria com prazer algumas das atrações, como Red Hot Chilli Peppers, Metallica, Capital Inicial, Skank, e até mesmo as deliciosas Shakira e Rihanna que fazem pop e pole dance com irrefutável apelo estético. Joss Stone é a mais linda de todas, ma já a vi descalça no palco, e prefiro ouvir seus discos.

Eu veria essas atrações se fossem shows isolados. Ter que ficar horas lá assistindo a um bando de porcarias lamentáveis como Ke$ha, para depois sim ver alguma coisa que preste, quando já morto de cansaço, não dá mais pra mim. Passei da idade. Arthur Dapieve, veterano roqueiro, escreveu que assistiria ao System of a Down se tivessem inventado o teletransporte. “Não curto mais interagir com cem mil pessoas. Só em pensar em me deslocar até a Barra Profunda noites a fio, dou tapinhas no tatame.” É por aí. Eu ainda interajo com muita gente. Fui ao U2 neste ano e irei ao Eric Clapton nesta semana e ao Pearl Jam no mês que vem. E iria todas as vezes que o recém finado R.E.M. retornasse ao Brasil. Mas, definitvamente, tem coisas que aos 43 você não encara mais, como se tivesse 18 anos.

Não tenho nenhuma nostalgia da noite dos metaleiros em 19/01/1985 (Whitesnake, Scorpions, Ozzy e AC/DC), quando os shows foram maravilhosos, mas a gente chafurdava na lama e no cheiro de bosta. Meu amigo Celso Cavalcanti (do blog olho de prosa), outro roqueiro das antigas, bem definiu a Cidade do Rock como uma Disneylândia do Rock, com sua cenografia artificial, sua assepsia, sua grama sintética bonitinha e sua população flutuante que pouco tinha a ver com o estilo musical que está na marca mais que no palco. Mesmo que o festival tenha sido bem organizado em sua logística.

Eu não fui e nem vou mais. Mas pelo Facebook (também sei ser moderninho) acompanhei meu primo Victor, 20 anos mais jovem, se divertir por lá.

Outra evidência de minha senilidade galopante está no fato de que mesmo pela TV eu não consegui assistir a nenhum dos últimos shows de cada noite ao vivo. Capotei, chapei, dormi e ronquei ao final do penúltimo show. Falando nisso, eram constrangedoras as atuações dos comentaristas do Multishow. Até mesmo Beto Lee, que entende de rock e apresenta bem outros programas, foi um fiasco na telinha.

O que ficou deste Rock in Rio foi o tragicômico bordão que a atriz Cristiane Torloni, incorporando o estilo de sua personagem em uma telenovela, disse em uma entrevista: “Hoje é dia de rock, bebê!”. Pois é, eu não sou um bebê. E não gosto de criancices.

Tendo a concordar mais com o Lobão que há muito anos, em trocadilho tão infame quanto acertado, batizou um disco seu de “O Rock errou”.



2 comentários:

Victor Brum disse...

Eu curti bem! Concordo que algumas atrações podiam ser evitadas.

De qualquer forma acho q te entendo.

Que honra ser citado por aqui. Gostei mesmo.

abração primo

Anônimo disse...

Poderia, abandonar seu blog, antes mesmo de começar.rsrs
esse comentário grosseiro a respeito da Claudia Leite.
Uma dica, mulher tb pode querer participar do seu blog. Mas, assim, comentário desnecessário...
Quanto ao Rock in Rio, a proposta desde o início foi que teriam atrações nacionais tb.
Mas concordo com vc, não vou porque já basta no carnaval. Ao invés de samba, axe, funk...
abç
Orquidea