terça-feira, 19 de julho de 2011

Mixnuts

Enquanto o avião ganhava altitude, o som da turbina parecia o de uma velha Harley-Davidson.


A lua cheia estava ainda baixa e me senti um romântico cosmonauta. Parecia que a aeronave voava em torno dela. Não sou astrônomo, nem vampiro ou lobisomem, e “eu não devia te dizer, mas essa lua, esse conhaque, botam a gente comovido como o diabo”(Drummond).

Bebi Sol, a cerveja, e comi o horroroso mixnuts que serviram a bordo. Saudade da barrinha de cereal da companhia aérea concorrente. Na telinha, passava um documentário suuuuuuper interessante sobre escargots.

Eu via as imagens sem áudio. Mostraram também haras e cavalos e havia uma placa numa baia com o nome da égua. Ursula, mesmo nome da minha tia, que, naturalmente, não é égua e foi, quando jovem, mulher muito bonita, de pela alva e olhos claros, suíça que se casou com iugoslavo e teve três filhos, um dos quais é tatuador na Califórnia. A vida é grande em possibilidades, o mundo é pequeno e cada vez menor. Nós podemos ser o que quisermos.

Depois, mergulhei na leitura de “Um dia”, de David Nicholls, que a Simone e a Iara tinham elogiado no Facebook, despertando minha curiosidade. Envolvente, não dá vontade de parar de ler. Às vezes me parece literatura um pouco feminina, mesmo sem saber exatamente o que isso significa. Não importa. O feminino é irresistível para mim.

Desembarco em Brasília com saudade de quem está noutra cidade.

Brasília sempre me emociona de um jeito estranho. Como se a vida estivesse à espreita, prestes a acontecer numa entrequadra. Gosto da cidade onde morei quase oito anos. Os mais intensos que vivi, para o bem e para o mal. Mas agora parece que não me encaixo mais aqui.

Qual é o meu lugar? O meu tempo é um dia.

Nenhum comentário: