domingo, 13 de março de 2011

Eca!

Palitar os dentes para remover aquele fiapo de carne ou couve que teimou em fixar residência na sua boca é um troço horrível. Só deve ser feito se não houver fio dental disponível em um raio de 10 km e mesmo assim na solidão do banheiro. Aliás, tudo o que se faz em um banheiro deve ser feito na mais absoluta solidão. Portas fechadas, sempre. Intimidade demais é uma merda. Vamos combinar que vê-la enxaguando a boca com Listerine não é a mais estimulante preliminar para uma sessão de sexo oral, por exemplo.


Dia desses, eu estava sob marquise do prédio onde trabalho, pitando um cigarrinho, quando passou um sujeito palitando. Os ouvidos.

Isso mesmo. Nada de cotonete. Palito de dente orelha adentro. Sem medo de furar os tímpanos.

A cena bizarra me fez lembrar – sem traço de saudade – de um colega de trabalho que tive no início da carreira, em fins dos anos 1980. Era um senhor bigodudo que ainda usava gel no cabelo. Ele tinha o hábito de usar a tampa da caneta Bic para dar aquela coçadinha nos ouvidos, enquanto limpava a garganta ruidosamente como se tivesse um roto-rooter embutido. Alternava com o uso do mindinho. Ato contínuo, usava a tampa para eliminar resíduos sob a unha comprida. Fazia isso sem a menor cerimônia, na frente de todos no escritório.

Ele tinha outro hábito desagradável. Colecionava artefatos orgânicos retirados das amplas narinas sob o tampo da mesa ou o assento da cadeira do escritório. A gente o chamava de Zé Meleca, alcunha que ele fazia jus por merecer. E acho até que se orgulhava.

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