domingo, 5 de setembro de 2010

A história de todos nós



Sua avó já dizia que homem é tudo igual. Seu avô já dizia que as mulheres são assim mesmo. Todo mundo é parecido quando ama e quando sente dor.


Por isso, fomos assistir à “História de Nós 2”. Que é, de forma bem realista, a história de todos nós. A peça mostra com bom humor todas as fases de um relacionamento amoroso. Do início, onde até os defeitos parecem perfeitos, até o fim, destino mais provável de todas as relações. Passando pelo período do meio, onde nada acontece na cama e tudo acontece fora dela.

Os casais na platéia invariavelmente se identificam com as situações e se cutucam aqui e ali, querendo dizer: “Viu? Eu te digo” ou “Igualzinho a você”. Na prática, é como passar um monte de recados, sem você precisar passar pelo tormento de discutir a relação. Muito embora algumas discussões, ou mesmo conversas, sejam monólogos, já que há mulheres que, como a personagem do espetáculo, sofrem de “incontinência verbal”.

O abismo entre expectativas e visões masculinas e femininas fica evidente desde o início, quando ele descreve a noite perfeita como “chegar do trabalho, beber uma cervejinha, assistir ao futebol e namorar a minha mulher.” Ao que ela retruca: “Ele só pensa nisso: cerveja, futebol e sexo. Sinceramente, isso é vida?”. Preciso responder?

Depois que o filho nasce as distâncias aumentam. Ele quer a mulher de volta. Ela quer um pai para o filho. Sexo torna-se artigo raro. Ela concentrada no papel de mãe, com a libido a zero e pressionada pelas “obrigações conjugais” diz: “Já dei essa semana. Agora, se Deus quiser, só semana que vem!”. Ele, por sua vez, cansado de ter que criar mil climas para conseguir o básico, capitula: “Desisto, é muita firula pra uma trepadinha só!”

Mas nem tudo é guerra dos sexos. Há entendimento e harmonia. Há amor. Na história deles dois e nas nossas também. Suas risadas, e até mesmo um ou outro nó na garganta, sinalizarão que, de algum modo, você também está retratado ali. No início, no fim do início, no meio, no começo do fim, no fim. Se há final feliz? Todo final que implica recomeço, juntos ou separados, é um final feliz.

Em tempo: ao contrário do que costuma acontecer a muitos casais, os atores Alexandra Richter e Marcelo Valle não perderam o tesão depois de um ano e meio em cartaz. A dupla está muito afinada em cena. Enfim, recomendo.



Serviço

“A peça conta a história de Edu, dividido entre o desejo de ascender profissionalmente, a vontade de manter um casamento e o sonho de ser eternamente livre, e Lena, uma mulher 'partida' entre carreira, maternidade e paixão.
A trama começa na noite em que Edu, separado de Lena há algum tempo, vai ao apartamento buscar seus últimos pertences. Assim, o derradeiro encontro do casal converte-se num ajuste de contas cômico e emocionante, no qual eles tentam descobrir de quem afinal foi a culpa da separação: da mulher, da mãe, da advogada bem sucedida, do marido, do adolescente eterno ou do publicitário workaholic. Por meio de humorados e reflexivos flashbacks, seis personagens ocupam a cena para mostrar A História de Nós 2.

Ficha Técnica:
Autora: Licia Manzo
Diretor: Ernesto Piccolo
Elenco: Alexandra Richter e Marcelo Valle
Local: Teatro Vanucci, Shopping da Gávea, Rio de Janeiro”

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