Dez e quarenta e cinco de uma terça comum. Ele a deixa no
trabalho, provavelmente atrasada. Dentro do carro, beijam-se longamente. Ela
desce e caminha em direção à entrada do prédio. Vira-se, talvez ele a tenha
chamado. Volta até o carro e, na ponta dos pés, estica o corpo pra dentro, pela
janela aberta do carona. Outra vez,
beijam-se demoradamente.
Ela então retoma o prumo e o rumo à portaria, levemente
corada, sorridente e olhando para trás. Ele permanece parado até que ela suma
completamente de seu campo de visão. Quem sabe torcendo para que ela decida
jogar tudo para o alto e voltar para o carro porque o desejo não pode esperar.
Felizes são os namoros novos.
Fosse namoro antigo, ela não voltaria para beijá-lo uma vez
mais. Fosse namoro antigo, o beijo de despedida no carro seria mero selinho.
Fosse namoro antigo, ele não a levaria ao trabalho. Fosse namoro antigo, eles
não perderiam a hora do serviço. Fosse namoro antigo, seria hora de acabar.