sábado, 10 de setembro de 2011

Temos nosso próprio tempo

Quando garoto, eu adorava assistir ao seriado “Túnel do Tempo”, no qual, a cada episódio, dois caras eram transportados aleatoriamente para momentos relevantes da História.


Fui assistir à comédia “O Homem do Futuro”, filme escrito e dirigido por Cláudio Torres e protagonizado por Wagner Moura e Alinne Moraes. Bem realizado, divertido, e, claro, bebe de outras fontes como o já clássico “Back to the future”.

Meu ponto não é crítica cinematográfica, mas sim o fato de que um filme tipo sessão da tarde me inspirou umas reflexões baratas.

A questão central é voltar ou não para dar uma photoshopada no passado e as implicações disso. É ficção (ainda), óbvio, mas se pudéssemos voltar ao passado, talvez fosse a morte do futuro, como assinala o personagem. Ficaríamos em um eterno retorno, querendo apagar, consertar, refazer, melhorar as coisas. E como estamos todos interligados, uma mexidinha que eu fizesse na minha vida mudaria também a de outras pessoas e vice-versa.

Claro que eu faria muitas coisas diferentes do que fiz. Mas se o fizesse eu seria um homem diferente do que sou hoje. E eu não quero isso. Sou causa e conseqüência de tudo que fiz. Gosto de quem sou. Estou quite com o meu passado, o que inclui pequenos erros e cagadas monumentais.

Outro ponto é que a vida não é editável. Ela é ao vivo. E é única. Então, o que você está fazendo com o seu tempo? É tão somente o presente que está em suas mãos.

O filme me trouxe alguma nostalgia na empolgação juvenil dos universitários em 1991 cantando, não por acaso, “Tempo perdido”, da Legião Urbana. Eu me graduei em 1990 e sempre ouvi muito Legião. Renato Russo foi um dos porta-vozes daquela geração. Quando jovens, acreditamos que temos todo o tempo do mundo.

A nostalgia soprou em mim outra vez na cena em que Alinne Moraes diz “eu te amo” ao Wagner Moura, com a vitalidade própria das paixões jovens (as paixões jovens, não necessariamente apaixonados jovens). Paixão não envelhece. Morre. Aqui cabe tomar emprestado o título do ótimo romance de Marçal Aquino: “Eu ouviria as piores notícias dos teus lindos lábios”. Ouvir um enfático “eu te amo” dos lábios da belíssima Alinne é benção que confere a toda paixão o status de verdade incontestável e longevidade possível.

É preciso saber viver

Não tenho vindo muito ao mar. Na verdade, nunca fui muito praiano. Prefiro a montanha. O clima é ameno e eu não gosto de calor. No alto, você tem a sensação de liberdade, e não há nada de que eu goste mais. No mar, você está inserido, está dentro, há a sensação de pertencimento. E eu não sou de mergulhar, exceto nas paixões. Sou do vento e não d’água.


A montanha também me parece mais solitária. Eu sou só. Intrinsicamente. E vez em quando gosto de me isolar, em fases anti-sociais. Música incidental: “... por que temer viver só, já que morremos sozinhos? ...” (Hojerizah)

Perguntaram-me se ando ausente daqui por que o mar está flat ou por que está em fúria, levantando lodo do fundo. Talvez seja esta segunda opção, embora eu quase preferisse a primeira.

Águas paradas são profundas. Eu sou?

É fato que estou escrevendo menos. E o pouco que tenho escrito é impublicável. Não estou a fim de brincar de querido diário em público. Carne exposta no mercado digital. Ninguém tem nada a ver com a vida de ninguém. Que cada um se ocupe da sua.

Eu ando com apetite pela vida e com preguiça da vida, alternadamente. Quero sempre mais e melhor. Mas estou mais cético, ácido, desesperançado.

É preciso coragem para vida. Coragem para os excessos e para as carências. Coragem para as escolhas e as renúncias. Coragem para o grandioso e para o cotidiano. Para a rotina e para o extraordinário.

É preciso coragem para o gozo e para a brochada. É preciso coragem para destruir (há destruições positivas) e para preservar. Coragem para dar valor e para abrir mão. É preciso coragem para ser verdadeiro, sem deixar de ser diplomático e gentil. Coragem para ser autêntico. Ser básico e múltiplo.

É preciso coragem para abrir o peito e meter os pés na vida. Hay que tener cujones. Mas uma amiga diz que somos uma geração de cuzões.

A vida não é curta, mas é rápida. Somos todos cada vez mais imediatistas e refratários aos sentimentos que não exalam a felicidade aparente dos anúncios. Frustração, tristeza, desilusão, injustiça, perda, fracasso também fazem parte do repertório da vida. “Fail. Try again. Fail better” (Samuel Beckett). O único caminho é o do aprendizado contínuo.

Bah, embora esteja sóbrio, estou filosófico pacas para uma manhã ensolarada. Será que dá pra simplificar? É só ir tocando em frente. Sem problematizar. ‘Bora?