segunda-feira, 31 de maio de 2010

Você contra o cigarro

Arte em muro de Buenos Aires. Foto: Leandro Wirz

Hoje, 31 de maio, é o Dia Mundial Sem Tabaco. Eu sou um fumante que está há três anos e meio sem fumar. Não celebro a marca. Por juízo, e não com alegria, tenho me mantido longe do cigarro. Tarefa árdua.

A verdade é que o amor me tornou mais cuidadoso e menos auto-destrutivo, e parei de fumar em um réveillon. Mas pode ser que noutro qualquer eu faça o avesso e estabeleça como meta para o ano seguinte voltar a fumar. Já avisei à minha mulher que quando fizer 80 anos, e estiver na prorrogação, indo para os penâltis, eu volto.

Por quê? Porque eu sinto prazer em fumar. Só por isso. Ah, e muitas vezes, eu acho, sim, charmoso (influência perniciosa do cinema e da propaganda). Faz mal? Faz. Mata? Mata. Mas cada ser humano deve ter o direito de escolher como quer morrer.

Lembro de uma tarde na casa da minha avó. Minha irmã, a quem, quando criança, eu chamava de “meia-irmã”, por ser filha de um casamento anterior do meu pai, tinha em torno de 25 anos e eu era um pré-adolescente. Quando minha avó veio com aquele papo de que uma mulher tão bonita não deveria fumar aquela porcaria que fazia mal e matava, minha irmã respondeu: “Mas, Vó, a gente morre feliz”.

A palavra que melhor define minha relação com o cigarro não é “vício”. É “paixão”. Hoje, é platônica e, por isso mesmo, duradoura. E, sim, é irracional. Fumei dos 16 aos 38 anos, com umas duas ou três paradas aí pelo caminho para os pulmões descansarem. O cigarro foi um grande companheiro de jornada, ainda que seja um Judas. Pode ser que lá na frente venha a fatura para eu pagar. Mas somos adultos e sabemos que quase tudo na vida tem um preço e nem todos podem ser pagos com Mastercard.

Não pretendo estimular ninguém a fumar. Mas não tenho a intenção de ser politicamente correto. Escreva você contra o cigarro. E terá razão.

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sábado, 29 de maio de 2010

Os busão


Recentemente, a Fifa divulgou as frases que estarão nos ônibus das 32 seleções que disputarão a Copa da África do Sul. Nem todas são boas, mas é interessante observar que algumas delas, escolhidas pela internet, combinam perfeitamente com os respectivos países e, de certa forma, os traduzem.


Alemanha: “No caminho de ganhar a Copa!” Direta e reta, objetiva, como o país e seu futebol.

Argentina: “Última parada, a glória!”. Dramática como um tango. E presunçosa, bem, presunçosa como... um argentino.

Inglaterra: “Jogando com orgulho e glória”. Nada mais britânico, né? Parecem os cavaleiros indo para uma batalha defender a coroa de sua majestade.

França: “Todos juntos por um novo sonho azul”. Essa tem a cara dos Três Mosqueteiros.

Grécia: “A Grécia está em todos os lugares”. E não apenas nos 44 assentos do ônibus. Pretensiosa, mas é verdade. A Grécia é um dos pilares de todas as nações ocidentais. E a Grécia vive mesmo do passado. A crise atual por lá é que o diga. Aliás, os efeitos da crise na Grécia a mantém em todos os lugares ou, ao menos, em todas as Bolsas.

Nova Zelândia: “Chutando no estilo kiwi”. Confesso que não entendi. Eu só conhecia a “folha-seca” do Didi.

Suíça: “Vamos, Suíça!”. Neutra – pra não dizer sem emoção - como a Suíça. Mas corretíssima, como a Suíça, porque escrita nas quatro línguas oficiais do país.

Japão: “O espírito samurai nunca morre! Vitória para o Japão!” Ai, ainda essa história de samurai?!

Paraguai: “O leão guarani ruge na África do Sul”. Peraí. Leão guarani?! É a cara do Paraguai, até o leão é fake.

Várias outras são curiosas e reveladoras, como as de Espanha, EUA, África do Sul, Holanda, Itália, Austrália, Nigéria e México, mas não quero me estender demais por aqui. E ainda tenho que falar da frase do Brasil.

“Lotado! O Brasil inteiro está aqui dentro!” Engraçadinha, bem humorada. Patriota, ufanista – lembram do “90 milhões em ação”da Copa de 1970?. Redundante também. Se a frase está pintada no ônibus, basta o “aqui”. O “dentro” é dispensável.

Após o desembarque na África do Sul, a seleção foi transportada do aeroporto até o hotel-concentração por um discreto ônibus branco. Isso porque o ônibus oficial, esse pintado com a frase, chegou atrasado ao aeroporto. Isso não é a cara do Brasil?



ps.: No mais, tremenda babaquice a seleção brasileira ir beijar a mão do presidente antes de viajar.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Sexo e obeliscos

Obelisco em Buenos Aires. Foto: Leandro Wirz


Maradona, ex-gênio e atual técnico da seleção argentina, declarou que seus jogadores estão liberados para fazer sexo (desde que com as respectivas parceiras fixas, ressaltou), beber um pouco de vinho tinto e comer um doce durante o período de concentração da Copa.


Dunga, o nosso técnico, com sua inata verve humorística, ironizou e disse que “nem todo mundo gosta de sexo, de vinho e de sorvete.” É verdade. Tem gente que prefere, nas horas vagas, a Branca de Neve, a Bíblia, e o Xbox ou o Wii. Tem gente que prefere cuscuz, patrocinadora Brahma, geléia de mocotó.

Taí. Nisso, eu concordo com o Dunga. Gosto é que nem...Cada um tem as suas preferências. Mas, neste caso, as minhas são totalmente argentinas.


A declaração do Dunga pode ser uma pista para justificar porque ele não convocou o Ganso. É que não gosta muito de afogá-lo. Piadinha horrível essa, né? Bem, só espero que o destino não seja irônico e o Dunga não tenha uma infecção alimentar por comer patê de foie gras.

Mudando de anão, voltemos ao Maradona. Ele prometeu que se a Argentina for campeã, ficará nu em pleno obelisco da Avenida Nove de Julio, um dos marcos de Buenos Aires. Faltou saber se vai ser no chão, ou lá no alto do obelisco. E, se for lá em cima, Maradona, pode ser nu e empalado?

Eu já era a favor da demolição do obelisco que o ex-alcaide César Maia erigiu em Ipanema. Agora, então, torço para que seja derrubado imediatamente. Vai que o Dunga resolve ficar peladão por aqui?

sábado, 22 de maio de 2010

Perguntinha básica



Pergunta de Quiz: Como se chama o atual presidente da Nigéria?


...

A resposta correta é...

Goodluck Jonathan!

E sabe qual o nome da primeira dama?

...

Ela se chama Patience!

É isso mesmo, parece (e quase é) uma piada: o seu Boa Sorte é casado com a dona Paciência.

Certamente, o povo nigeriano precisa muito de ambas.

Agora, a pergunta de um milhão de dólares é:

Por que aqui no Brasil a gente, há séculos, não consegue casar a dona Ordem com o seu Progresso?

Desculpa aí, Rafael


Hoje é sábado, noite certa de blitz da Operação Lei Seca. Longe de mim ser abstêmio, mas eu apóio e não tuíto. Há uns anos, bebi demais e, de madrugada, eu dormi ao volante e não fiz uma curva (sim, existem curvas em Brasília). Por sorte, o meu carro foi o único ferido no acidente.


Recentemente, jantei num japa com a minha mulher e bebi uma única long neck, uma Cerpinha estupidamente gelada, incapaz de afetar minha capacidade de direção. Ao voltar para casa, blitz em Ipanema. O policial se identificou como Rafael, muito educado, pediu habilitação e documento do carro, tudo em ordem. Perguntou se eu havia bebido. Eu não sabia o quanto minha resposta poderia influenciar a interpretação do policial sobre o resultado do teste e, meio no reflexo e na covardia, menti. Respondi apenas que não.

O policial perguntou se eu me incomodaria em fazer o teste. Claro que não, eu disse. Eu havia ingerido álcool há cerca de uma hora e, depois, comido sobremesa e bebido café. Ele me mostrou o bico descartável em embalagem plástica fechada e me orientou a soprar no bafômetro duas vezes.

Olhando para o visor do aparelho, o policial disse: “O limite é até 10 pontos e o seu teste deu 3. Ok, tudo bem, pode seguir adiante.”

Então, emendou a frase que foi mortal: “Mas o senhor mentiu para mim. O senhor disse que não havia bebido”.

Eu morri de vergonha. De verdade, eu queria um buraco para enfiar a minha cara. Me senti péssimo pelo meu comportamento, por ter caído na armadilha da mentira fácil e tão desnecessária. E, sim, nessa vida eu já menti em coisas mais sérias para pessoas queridas e muito mais importantes para mim do que o policial Rafael.

E aqui, expio minha culpa. Sou humano, demasiado humano.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

O caubói nu

Fotos: Leandro Wirz


Vestindo chapéu e botas de caubói com sunga branca (eca!) e arranhando o violão, o sujeito das fotos é um maluco beleza que perambula pela Times Square.

Mais “beleza” do que “maluco”, obviamente, porque não rasga, mas sim ganha dinheiro com os trocados que os turistas lhe dão. Japoneses são os que mais fotografam e deixam uns dólares, não raro, depositados na sunga, como fazem os clientes dos strippers. Já os brasileiros, só fotografam mesmo.

Ele atende pela alcunha de The Naked Cowboy e tem até cartaz lançando fictícia candidatura a prefeito com slogan previsível e péssimo: “Porque ninguém fez mais com menos”.



Pois bem, os turistas se aproximam, pedem para tirar fotos e ele usa o corpo malhado como ferramenta de trabalho. Enrijece os músculos, empina a bunda e conduz a mão das moças para apalpá-lo. Toca uma musiquinha folk ou country tosqueira e fatura o seu.

É uma versão gringa dos malas que aqui chegam junto tocando cavaquinho e pandeiro e depois passam o chapéu. Chatice que há no mundo todo em diferentes versões e ritmos musicais. Mas o fato é que The Naked Cowboy tornou-se uma personagem de Nova York.

Então, gostou do bonitão aí da foto?

Isso é porque você ainda não me viu de cueca de oncinha e coturno...

terça-feira, 18 de maio de 2010

A Chance to Gaga

A cantora sensação Lady Gaga está onipresente nos clubes, pistas de dança, downloads e capas de revista.


E quem também anda causando sensação na internet é um pré-adolescente chamado Greyson Chance. Em um vídeo amador ele faz, com muita personalidade, um cover da canção “Paparazzi”, de Lady Gaga, e impressionam tanto o vigor do canto como o arranjo ao piano. Vale conferir.

São grandes as chances de, no futuro, o garoto se tornar alvo das lentes dos paparazzi.

Ah, e perdoem-no pela franja emo.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Não no coração

Marina Silva, candidata do Partido Verde à presidência da república, é uma mulher batalhadora que superou adversidades na vida. Por sua luta, coerência e capacidade, tem meu respeito e minha admiração.


É candidata a ter o meu, o seu, o nosso voto, assim como Dilma e Serra.

No entanto, vi na TV que, ontem, ao lançar sua candidatura em evento no Rio de Janeiro, ela encerrou o veemente discurso com “um beijo no coração de vocês”.

Ah, não, Marina. “Beijo no coração” não dá. Daqui a pouco, vai querer mandar um abraço de luz. Faz mais isso não, tá?

Um beijo.

Questão de justiça

O Canecão está parecendo casa de bingo ou pernas de puta, com tanto abre e fecha. Na semana passada, a Justiça deu ganho de causa “definitiva” à UFRJ e o Canecão foi lacrado. Dias depois, liminar mandou reabrir o Canecão. Aguardem cenas dos próximos capítulos.


Sinceramente, não sentirei saudades do Canecão. Simplesmente porque já sinto. A tradicional casa já teve seus dias de glória e indiscutível importância na cena cultural, mas há anos parece ter entrado em irreversível espiral decadente. Já escrevi sobre isso em 14/3/2009, aqui mesmo no blog. http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=3440128458971741716&postID=829935217265220122

A Universidade Federal do Rio de Janeiro, proprietária, afirma querer transformar o Canecão em centro cultural. Óbvio que nada contra a cultura, mas tenho dúvidas se é a melhor opção. Será que não teremos mais um espacinho mambembe que viverá às moscas? Muito mais do que abrir “centros” culturais meia-boca espalhados pela cidade, é preciso investir naqueles existentes para que tenham programação de qualidade com regularidade. E para que, assim, atraiam efetivamente público para as artes.

Enfim, só espero que a UFRJ não mande o Canecão para o inferno. O triste fim para as velhas casas de espetáculo e salas de cinema é ser convertido em templo.

Mas o que me motivou a escrever este texto não foi o passado ou o futuro do Canecão. Na verdade, eu fiquei indignado quando li, em uma notícia, que a pendenga judicial entre UFRJ e Canecão se arrasta há 31 anos na Justiça!! Como assim?! Como pode um processo durar 31 anos e ainda não ter acabado?! Que leis são essas?! Que tramitação é essa?! Isto é ridículo! E, principalmente, é trágico.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Ó o docinho de leite (all the single ladies)

A agência África criou para a Seara esse ótimo comercial juntando o hit "All the single ladies" (Grammy 2009 de melhor clipe do ano), da toda boa Beyoncé, com os "Meninos da Vila" Robinho, Neymar e Paulo Henrique Ganso que, com seu futebol e coreografias irreverentes a cada comemoraçao de gol, são a sensaçao do ano no Brasil.

Dunga Dumb não convocou Neymar e Ganso está só na lista dos 30. Como saiu hoje na coluna do Joaquim Ferreira dos Santos, a lista de Dunga é, de acordo com o publicitário Reuber Merchezini, "a maior operação de combate ao craque já feita no Brasil". 

Impedidos de ver o trio em ação na Copa, fiquemos com o bom humor do comercial.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Television is a drug

Navegando nesses mares de coisas internáuticas e ciberespaçosas caí em http://www.anaerthal.com.br/ , site da "nanica metaleira de meia tigela", professora e super fera de comunicação Ana Erthal, a quem tive a satisfação de conhecer em uns trampos. Lá no seu blackblog, curti este vídeo e fui buscá-lo no Vimeo, onde foi postado por Beth Fulton.

Sim, a TV é uma droga, nos dois sentidos (ruim e tóxica). Mas será que a internet também não é? Quantas horas você navega por dia?

Tudo isso?

Ok, não sejamos tão rudes ou cruéis. Há muita coisa boa e útil nesses oceanos digitais. Nem tudo é resíduo plástico.

Tente a rehab.


Television is a drug. from Beth Fulton on Vimeo.

A pátria descalça

Foto: Elton Melo, 2006


Sim, eu sou técnico de futebol. Eu e outros 100 milhóes de brasileiros. Brasileiro depois que aprende a falar já sabe convocar seleção. Eu sei. E no meu escrete canarinho, obviamente, estariam Neymar e Paulo Henrique Ganso que jogam um futebol alegre e vistoso, como aquele que a Seleção de 1982 jogava, embora tenha perdido a Copa para o Paolo Rossi, with a little help from Cerezo.


Mas, enfim, é o Dunga quem convoca o time e ele escolheu de acordo com os seus questionáveis critérios. Alegou uma tal coerência e, de fato, não supreendeu. Fez o que dele se esperava, à exceção do Grafite que, na ponta do lápis, não sei se joga tanta bola assim (Apesar desse gol antológico que fez pelo Wolfsburg: http://www.youtube.com/watch?v=Ow-g7nOLTUE.)  Mas achei justa a exclusão de um craque de peso, o Adriano.

Queremos raça, e não robertos carlos de meião e salto alto, mas convocar o goleiro Doni porque ele brigou com seu time para participar de um amistoso da seleção, me parece uma questão muito mais de comprometimento do que futebolística. Kleberson, que é reserva do Toró no Flamengo, e Grafite também contrariam o critério de que foram construindo sua história na seleção “tijolinho a tijolinho”, como disse o técnico. Kleberson foi penta, mas nunca jogou sob o comando de Dunga e Grafite jogou 26 minutos e “ganhou a vaga em cinco minutos”. Mas que atire a primeira bola quem nunca foi incoerente.

Se a Seleção ganhar – e pode ser que ganhe – Dunga vira Mestre. Se perder, no máximo, fica sem emprego por alguns meses.

Dunga fez a convocação utilizando um discurso patriótico, na linha de que os jogadores estão prontos a se doar pelo País. Eu não sou patriota. Não canto o Hino Nacional. Torço por dois times de futebol, o Flamengo e o Brasil, aliás, acho até que mais pelo primeiro do que pelo segundo.

Que mané “pátria de chuteiras”! Tô fora, Nelson Rodrigues. O filósofo Bertrand Russell definiu bem essa bobagem: “Patriotismo é a disposição de matar e ser morto por razões triviais”. Eu não morreria pela pátria, nem viveria sem razões.





ps.: Como sugestão de leitura, segue o link para o texto de um blogueiro que não conheço, mas que externa uma visão muito próxima a minha sobre patriotismo.
http://adrianodsa.wordpress.com/2008/05/17/sobre-o-patriotismo/

terça-feira, 11 de maio de 2010

Palavras doces

Quatro casais, juntos há mais tempo do que costumam durar os casamentos contemporâneos, reuniram-se para um bom jantar regado a vinho. Como a verdade repousa na bebida, em dado momento após algumas taças, um dos homens fez extensa e sincera declaração de admiração e amor por sua companheira. Tão efusiva que, por pouco, não causou certo embaraço aos presentes.


O arroubo do apaixonado inflacionou o mercado. Já em casa, uma das esposas reclamou com o seu marido que ele não se comportava dessa forma, não lhe dedicava rasgados elogios públicos. Ele ponderou que mesmo sem repetir tantas vezes as palavras, seu amor era da mesma magnitude e seu carinho se manifestava até mesmo em pequenos cuidados cotidianos, como encher sempre a geladeira com o iogurte favorito dela.

Não convencida, ela deu a tréplica dizendo que quando as mulheres reivindicam mais carinho, os homens chegam logo com mãos afobadas sobre peitos e bunda e não é nada disso que deveriam fazer. Quando falam em carinho nessas horas, elas se referem a coisas menos eróticas. Mas também não é ao iogurte na geladeira. Enfim, algo difícil de compreendermos em nossa sensibilidade ogra.

Só sei que foi assim que a história me chegou. Pois eu lhes digo que nós homens também queremos mais carinho. Só que, no nosso caso, estamos nos referindo a coisas eróticas. E não a cafuné.

Aqui vai uma generalização provocativa: em relações estáveis, com o passar do tempo, as mulheres tendem a diminuir sua disposição ao sexo febril, diário, a qualquer momento, em todos os cômodos da casa, como rolava nos primeiros meses. As mulheres tendem a trocar o pênis pelo ombro de seus homens. No sentido lato, querem mais companheirismo, aconchego, afeto, proteção. Mais do que sacanagem.

Lembrei-me de uma sentença tão chula quanto verdadeira de um antigo colega de trabalho, que tangencia esta questão do carinho e da (des)erotização, assim como ilustra as imensas diferenças entre os gêneros: as mulheres, quando chegam em casa estressadas, querem palavras doces e massagem; os homens querem silêncio e boquete.

Se tiver um uisquinho, fica perfeito.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Por uma vida sem plus

Adoro Coca-Cola. A normal, comum, regular, clássica, essa que é isso aí. A Coca Zero faz jus ao nome e a Light eu não bebo nem que ela seja a última do deserto.


Adoro não apenas o refri com muitas pedras de gelo, mas a marca e suas campanhas. Em 2009, estive na sede da companhia em Atlanta, Georgia, e, publicitário, dediquei quase uma hora para assistir aos melhores filmes feitos no mundo inteiro por diversas agências. Muito legal.

A Coca começou no fim do século XIX e sua comunicação era argumentativa, racional, afinal ela era vendida como remédio. Foi a partir da década de 1920 que ela foi gradualmente mudando suas campanhas até se tornar absolutamente irrefutável, por ser pura emoção.

Mas não se pode acertar sempre. A Coca Light agora é Plus, porque foram adicionados vitaminas e minerais. Ok, todo mundo quer ser magro e saudável nowadays e estão tentando tornar o produto melhor. Vá lá. Mas ninguém vai beber Coca pensando que ela é uma fonte de vitaminas, né? No máximo, de potássio.

Mas deixa o produto pra lá e vamos ao filme. Um carinha boa pinta caminha pela esteira de bagagem do aeroporto (Bingo! Ele é um mala!), vai para a área reservada, de onde saem as bagagens e volta carregando a sua. Então, um sujeito com a maior cara de boçal puxa uma salva de palmas. Uma gata acha o babaca o máximo por isso e o filme assina: “Dê um plus em sua vida”

Peraí. Um plus na minha vida é caminhar na esteira para buscar minha mala antes que ela seja distribuída civilizadamente pela companhia área?! Nossa, então que vidinha chinfrim eu tenho, né? A intenção foi mostrar rebeldia e iniciativa?! Nossa, mas que visão light do que são essas coisas. Para mim, o sujeito não é um go getter. É apenas um sem educação performando para um bando de limitados.

Como nem tudo é uma m..., a trilha do comercial tem bom arranjo, embora seja a enésima gravação de "You make me fell mighty real”. Canção quase tão nova quanto a Coca.

Na moral, dispenso o plus-a mais-adicional-extra-bônus da Coca Light agora Plus e fico esperando anúncio melhorzinho, bebendo uma Coca. Normal.