terça-feira, 30 de setembro de 2008

Desafinação





A mídia tem incessantemente lembrado a todos que, neste ano, a bossa nova, “orgulho nacional”, completa 50 anos.

Falando francamente, eu comemorei mesmo foi em 2004, quando fez 50 anos que um certo topetudo rebolativo estava em um estúdio em Memphis, Tennessee, e começou a brincar em cima de uma velha canção, chamada That’s all right, Mamma! O dono do estúdio, sujeito de visão, interrompeu a brincadeira do cantor, do baixista e do guitarrista e perguntou: “O que vocês estão fazendo?!” “Nada, estamos só brincando.”, foi a resposta. “Seja lá o que for, dêem um jeito de voltar ao início e vamos gravar!” O nome do topetudo era Elvis Presley e essa gravação é o marco zero do rock’n’roll.

Tem certos assuntos sobre os quais o patrulhamento não permite que se fale mal no Brasil de hoje. Por exemplo, Lula e João Gilberto. Ou seja, alguns me considerarão um herege, merecedor das fogueiras da Inquisição. Devo lembrá-los de que este é um país livre.

Eu realmente não entendo porque João Gilberto é tão incensado, venerado, adulado. A reclusão de pseudo-gênio, o mau-humor, a obsessão nas passagens de som, e principalmente a chatice daquela música de ninar cantada com voz pequena. Eu prefiro violão sem banquinho. O “banquinho” agora é o Itaú, que tem patrocinado as comemorações da bossa nova e se proclamado o banco que apóia a cultura brasileira.

Lobão, músico e apresentador da MTV, diverte-se com seu próprio personagem, o qual parece levar a sério. Adora criar polêmicas. Aliás, Lobão e polêmica é pleonasmo. Ele está longe de ser meu guru em qualquer assunto. Mas é dele a melhor definição de bossa nova que eu já ouvi: “Bossa nova é uma punheta que se toca com pau mole. Não há nenhuma energia naquilo!”

Com todo respeito à genialidade de Tom & Vinicius, é isso aí.

A versão João Gilberto destes anos 2000, em termos de artista superestimado pela mídia, é a banda carioca Los Hermanos. Nada me tira da cabeça que a melhor coisa que eles fizeram foi aquele roquinho teen que hoje os envergonha: Anna Julia. Depois que eles resolveram ser inteligentes, meu Deus!, como ficaram chaaaaaaatttttos. Desconfio que aquele segundo disco deles se chama Bloco do eu sozinho porque ninguém agüenta tanta chatice. Daí, deixam o cara só. Retifico: tem muita gente que não só agüenta, como adora os Los Barbudos, digo, Hermanos. Vide o show despedida, com uma platéia de devotos, que lotou a Fundição Progresso em junho de 2007 e virou DVD. Felizmente, eles deram um tempo com a banda. Mas como nem tudo é perfeito o vocalista (e bom letrista) Marcelo Camelo lançou seu álbum solo, igualmente chatíssimo.

Hoje eu li que Ivete Sangalo está lançando um disco infantil e o carro-chefe é o Funk do Xixi.

E tive certeza de que o mundo acabou.

domingo, 28 de setembro de 2008

Pérola em copo de leite


Circulando entre balcões, mesas e prateleiras, encontrei Ostra feliz não faz pérola, de Rubem Valente. Já tinha lido a crítica ao livro e esse título é brilhante. Para quem não sabe, a pérola resulta da dor, de uma ferida causada por um grão de areia. A ostra vai, aos poucos, embalsamando esse grão até que surge a pérola. A beleza nasce da dor. Não é disso que precisam os poetas? De um grão de areia apenas?

O livro reúne pequenos textos, anotações, pensamentos, de modo que em cada página o leitor pode encontrar um início e um fim.

Eu estou no meio.

E segui adiante até estancar diante de Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite. Como resistir a um título assim?! O livro é o terceiro da blogueira Fal Azevedo (http://www.dropsdafal.blogbrasil.com/) e expressões da nova literatura nacional têm me atraído muito ultimamente.

O romance conta a história de Alma, artista plástica de 44 anos, sóbria há 4 anos, 7 meses e 19 dias. Alma está recolhida em sua casa na cidade praiana de Bertioga, mas em um bairro pobre e longe do mar. Lá, entre cães, gatos e bolos caseiros, ela compartilha sua história, seus sentimentos, suas perdas, seus momentos felizes. Alma nos conduz por seu universo com extrema sensibilidade e um senso de humor aguçado, mordaz. Faz isso com tamanha força e lirismo que um pouco de nós surge nas páginas.
Outro dos meus hábitos virginianos é ler tendo em mão uma caneta marca-textos, para destacar boas sacadas ou trechos que considere especialmente bem escritos. Minúsculos assassinatos ficou bastante riscado.

A orelha do livro anuncia que esse é um livro inadiável. Foi para mim. E como todos os capítulos têm títulos de comes & bebes, eu o devorei prazerosamente.

Vamú! UUhhhhuuuuu!

Foto: Stephanie Natalie




Nesta semana, a reboque da crise financeira norte-americana, o banco Washington Mutual (WaMu) quebrou e foi comprado pelo JP Morgan, agora a maior instituição financeira daquele país.

A foto é de um antigo outdoor do WaMu que então surfava as ondas dos gigantescos lucros. E é uma prova do velho ditado da sabedoria popular: a euforia leva à debilidade.

R.I.P.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Manteigas Lydon, tá?

John Lydon / Johnny Rotten




Em meados da década de 1970, uns porra-loucas, muito bem gerados e geridos por Malcom McLaren, fizeram a Inglaterra tremer com seu som e sua atitude. Eram os Sex Pistols, banda punk de carreira meteórica (pouco mais de um ano) e influência duradoura.

À frente, um vocalista alucinado berrava coisas como “sou um anticristo, sou um anárquico”. Era John Lydon, que se tornou famoso com o nome artístico de Johnny Rotten. Depois dos lendários Pistols, Lydon cantou no Public Image Ltd (PIL), solo e em outros projetos menores.


Lembro de uma antiga entrevista em que o esquisitão dizia que costumava, na adolescência, passar manteiga sobre suas espinhas para que parecessem ainda piores. Sem comentários. Em termos de uso criativo do produto, continuo achando melhor a sugestão dada em O último tango em Paris.

O tempo passa, o tempo voa, e eis que Johnny ‘Joãozinho Podre’ Lydon transformou-se em garoto-propaganda de uma marca de manteiga inglesa. Só vendo para crer.


Na campanha, que irá ao ar em outubro na televisão britânica, o cantor promove a manteiga Country Life vestido como um perfeito cavalheiro em diferentes lugares da Grã-Bretanha. No filme, ele tenta entender porque gosta tanto da tal manteiga. Em seguida, conclui: "não é questão de Grã-Bretanha, é questão de Grã-manteiga". "Great Britain / Great Butter". Putz! Que péssimo!!!


No future at all !



ps.: para os mais jovens ou os de memória mais seletiva, o título deste post presta uma singela homenagem à Neide Aparecida e o clássico: "Perucas Lady, tá?"

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

SDS BSB

Foto: Giscard (picasa)




Então ele disse:
- Não posso falar agora.
- Mas vc atendeu ao celular...
- Só pra te dizer que não posso agora.
- Eu só queria te avisar pra vc ler logo um e-mail que eu te mandei.
- Agora não dá. Mais tarde.
- Tá tudo bem? Que que tá acontecendo?
- Tá chovendo.

Aí me caiu a ficha, como um raio na cabeça: estava chovendo em Brasília. Depois de seis meses sem cair uma gota, desaba aquele temporal maravilhoso que lava a cidade, a garganta e a alma, tudo ao mesmo tempo. Quem vive ou já viveu em Brasília sabe o que é essa sensação.
O céu, que de maio a setembro foi uma redoma azul sobre nossas cabeças e proporcionou os mais lindos pores-do-sol, torna-se cinza chumbo e feroz. A gente vê os raios distantes e a chuva vindo em cascata do horizonte. A terra, que arde vermelha com os últimos fiapos resistentes de grama, solta aquele cheiro de terra molhada que não tem igual. E o Eixão, a L2 e a W3 ganham a espuma do óleo que sobe do asfalto. E parece que todo mundo suspira aliviado nas entrequadras.

Meu amigo tem toda razão. A primeira chuva em Brasília justifica sustar qualquer urgência. O mundo que pare, eu não tô nem aí. O melhor mesmo é só olhar a chuva. E ouvi-la. E cheirá-la. E deixar-se molhar, corpo e (c)alma.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

É primavera

Primavera em Roma. Foto: Leandro Wirz







"At the end of this verse

Spring begins"





Derek Walcott, poeta antilhano (Sta Lúcia), nobel de literatura em 1992.

domingo, 21 de setembro de 2008

Sutiã nos olhos dos outros é refresco


Washington Olivetto é um gênio. É o maior publicitário brasileiro (sorry, Nizan) e posso dizer que minha admiração por ele foi, lá em fins da década de 1980, um dos motivos para eu escolher esta profissão, virando casaca sobre o jornalismo.
Recentemente, a editora Planeta publicou O primeiro a gente nunca esquece, livro que reúne 80 textos ou entrevistas de personalidades brasileiras que usaram a citação que se popularizou a partir da obra-prima O primeiro sutiã, campanha da Valisére, em 1987.

A tese defendida pelo livro é que a expressão que passou a fazer parte da cultura nacional a partir da campanha publicitária criada por Olivetto.

Com todo respeito, isso é bullshit. Na verdade, foi Olivetto que – como é do ofício publicitário fazer – apropriou-se de algo que já existia para desenvolver a campanha. Dizer algo como o primeiro namorado, o primeiro beijo ou a primeira vez a gente nunca esquece é mais velho do que minha avó, nascida em 1902. A expressão “a primeira qualquer coisa a gente não esquece” não tem autoria, é de domínio público e é bem anterior ao belo filme protagonizado por Patrícia Lucchesi.

Olivetto, em mais uma tacada de mestre, pretende persuadir a todos de que o comercial que criou inspirou, consciente ou inconscientemente, os textos do livro. Mas o que ele fez com a campanha da Valisére foi amplificar a popularização de uma expressão que já era, em certa medida, popular. Além de fazer propaganda de lingerie, ele fez uma campanha extremamente bem-sucedida de divulgação de uma expressão. Teve tanto êxito que dá a impressão de que, antes dele usá-la, ela não existia. Não é pouco mérito e talvez seja, por esta razão, case único.

Foi assim que fiquei feliz ao ler, em 13 de setembro, Washington Olivetto inventou o sutiã – Tentativa desesperada de desmentir uma tese. No texto, Arnaldo Bloch (que, por sinal, está no livro de Olivetto) afirma também ter certeza de que a expressão precede o anúncio da Valisére. E tenta reunir provas, conclamando os leitores a ajudá-lo. Fecho com ele.

Bloch talvez seja como a personagem interpretada por Julianne Moore no filme Ensaio sobre a cegueira, dirigido por Fernando Meirelles e inspirado na obra de Saramago. É a única a não ser atingida pela cegueira coletiva, que entra como mar de leite pelos olhos.

Em tempo: O livro, a despeito da tese pretensiosa e furada, é leitura recomendadíssima.

sábado, 20 de setembro de 2008

MadonnAmy




Para celebrar seu 30º aniversário a Lego criou bonecos de algumas celebridades, como Madonna, Amy Winehouse, David & Victoria Beckham.

Os pequenos objetos do desejo não estarão à venda para o público.

Lá como cá

Grafite: Tony Mendes. Foto: Leandro Wirz

Na última terça, 16, um brasileiro foi ferido na cabeça por bala perdida enquanto caminhava com a namorada por uma rua de... Calgary, no Canadá!!!!!!!

O rapaz, de 24 anos, é cearense, estuda Comércio Exterior e vive no Canadá há 6 meses. Nunca foi assaltado no Brasil. Ele perdeu a visão de um dos olhos.

O prefeito da cidade classificou o episódio como “um dia negro na história de Calgary” e o chefe de polícia afirmou que “um de nossos maiores medos tornou-se realidade”. As autoridades de Calgary estão preocupadas com a escalada da violência. A cidade, de quase um milhão de habitantes, teve nove (isso mesmo, 9) pessoas vítimas de tiros em 2008.

Qualquer semelhança com o Rio é mera...

Lima limão

fotomontagem publicada em 23 06 2007 no www.presepada.org/.


Não tenho nada com isso, não sei xongas sobre o Lucas a não ser o fato que ele é da Família Lima e que é músico. Não sei que instrumento ele toca.


Acho a Sandy uma excelente cantora com um repertório quase sempre ruim. É muito bonitinha, muito gracinha, muito meiga, muito simpática. Tanto que deveria posar para a Playboy, como bem sugere esta fotomontagem sacana que pesquei no site de (mau) humor http://www.presepada.org/.


Li no Babado do IG (assim como o Artur Xexéo não vê novela, eu não leio fofoca) que o Lucas Lima escreveu em seu blog 1 hora após acabar a festa de casamento com a Sandy: "Foi a noite mais incrível da minha vida! "


E pelo jeito, foi bem rápida também. Cá entre nós, uma hora depois da festa ele não deveria estar fazendo outra coisa em sua noite de núpcias?


No dia seguinte, ele voltou ao ar com uma postagem intitulada “Não rolou, não!” (isso é que é piada pronta!) para comentar matéria do Fantástico sobre a festa de casamento deles. Ou seja, além de teclar, o cara assistiu ao Fantástico! Isso é falta grave, sete pontos na carteira.

O Ancelmo Góis noticiou que, em plena lua-de-mel, o Lucas postou uma dica para a leitura de “A menina que roubava livros”, de Markus Zuzak. E eu que nunca pensei que fosse escrever uma linha sequer desestimulando a leitura como entretenimento...

Na seqüência, a Folha Online publicou matéria sobre a possível compulsão que os especialistas enxergam em quem fica atualizando blog em lua-de-mel. “É uso patológio ou compulsivo da ferramenta”, disse uma das especialistas entrevistadas pela Folha de S.Paulo. Lua-de-mel é para fornicar, gente.

O Zé Simão fez uma enquete básica para saber quem era mais virgem: a Barbie ou a Sandy. Deu a Sandy. Ou melhor, não deu. O Lucas estava na internet.

E o que eu tenho a ver com tudo isso? Como eu disse no início deste texto, nada. Mas é que duas coisas me interessam nessa história. A primeira é a necessidade de ser notícia, de estar na mídia. A lógica inconsciente é a do “apareço, logo existo”. A mídia se tornou o espaço onde a vida acontece. A televisão (ou a internet ou o jornal) é o batistério. Isso é uma síndrome dos nossos tempos.

E o segundo aspecto que me fascina é porque a história banal e pessoal sobre como está sendo a lua-de-mel do casal ocupou a imprensa. A nobre imprensa, e não aquela imprensa que vive de cobrir celebridades. Uma hipótese que me ocorre é que a Sandy sempre desempenhou muito bem o papel de menina talentosa, boa moça, filha “perfeita”, nora “perfeita”, irmã “perfeita”, namorada “perfeita”, do tipo “essa é para casar”. Sua figura angelical, sua discrição para assuntos sexuais, sua recusa às propostas que recebeu de revistas masculinas a colocaram em uma posição única no inconsciente dos homens brasileiros. E, bem, o Lucas está lá, eleito por ela. A inveja é uma m....

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Obrigado



Retribuo aqui duas generosas indicações:

Flávia Lima, do Infomaré, indicou o mardecoisa ao prêmio Dardos, espécie de selo de qualidade entre blogueiros.

E Francinne Amarante, do veterano blog Balaio Cultural, de Brasília, um dos mais lidos entre os hospedados no UOL, postou em 14/9 recomendação explícita para navegação neste Mar.

Valeu, meninas!

Ao Mar!

O Caderno de Saramago


Este é o nome do recém-iniciado blog do escritor português José Saramago, laureado com o Nobel de Literatura em 1998.
Segundo o autor, que acaba de concluir seu novo livro, A viagem do elefante, o blog irá trazer "o que for, comentários, reflexões, simples opiniões sobre isto e aquilo, enfim, o que vier a talhe de foice".
A primeira postagem é uma carta de amor a Lisboa, sobre a qual o autor diz, na apresentação do texto: "Decidi então partilhá-la com os meus leitores e amigos tornando-a outra vez pública, agora na página infinita de internet, e com ela inaugurar o meu espaço pessoal neste blog".

Há vida inteligente na web. O endereço direto do Caderno é http://caderno.josesaramago.org/ Ele fica hospedado no blog da Fundação José Saramago, http://blog.josesaramago.org/

Em seu Livro de Itinerários, Saramago - agora blogger Nobel - escreveu, muito apropriadamente, “Chegamos sempre ao sítio aonde nos esperam”. Mesmo.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Fé no ofício

Acontece hoje, às 19h, na Livraria da Travessa no Shopping Leblon, o lançamento do livro de poemas "Privação de Sentidos", de Mariza Tavares.


"Ofício

Não espere o verso fácil
a rima que se encaixa no fluir das palavras.
Este ofício é duro e áspero.
Tem cheiro acre
de coisa pisada.
Rotina de cavar
remendar
atritar
onde se esmerilha sem cessar.
Até o osso,
até a exposição impiedosa,
um pouco além do limite do suportável."
(Mariza Tavares)


Sobre o nosso ofício de fingidores que chegamos a fingir a dor que deveras sentimos, publico também poema de Márcio Bezerra, do Acre, que pesquei na rede no http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/acre/marcio_bezerra.html

"Ossos do ofício

1
escrever é mover pedras
em sinfonia com o acaso
em religião com o supérfluo
procurando construções
para uma morada distante
onde o infinito seja onde
e o eterno seja quando

2
tenho um punhado de pedras
ferindo-me as mãos como quem
colhe num campo de sonhos
um galho de navalhas

3
poemas são navalhas
que crescem do estomago
em diante"
(Márcio Bezerra)

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Chuva de segunda


Cariocas vestimos casaco quando chove e a temperatura fica abaixo dos 20ºC. Curioso que, para combinar com clima “londrino”, somos tomados por um súbito mood melancólico e as FMs infestam o dial de baladinhas lacrimosas, R&B açucarados e aquelas versões voz & violão. Nada de música dançante, temas alegres, canções de verão. Parece que todo mundo sofre por amor ou quer conquistar alguém ainda indiferente aos seus encantos.

Era segunda-feira de manhã, choviam cântaros e eu seguia para o trabalho. Difícil manter o bom-humor nessas condições. Olhava as pessoas se encolhendo de frio sob os casacos recém resgatados do fundo do armário. Por mais que eu sintonizasse outra estação, parecia que continuava ouvindo aquele programa clássico de flashbacks, o Good Times, da Rádio 98 FM, que eu nem sei se ainda existe. Estava vendo (ou ouvindo) a hora em que o locutor ia começar a tradução “dramatizada” da música romântica daquela noite. No meu tempo de adolescente, a gente chamava todas essas canções de “música lenta”. Nas matinês ou nas boates elas eram o aguardado momento de vencer a timidez para tirar a menina para dançar e entre encostos, arrochos e amassos, singelamente, “melar a cueca”. Hoje o que ousadamente fazíamos no escurinho da boate não chocaria nem uma criança.

Enfim, voltemos à chuva. E ao rádio. Eu estava chegando no trabalho quando tocou a baba-mór, aquela que colou como chiclete em todos os ouvidos, que empesteou todo e qualquer luau, toda e qualquer rodinha de violão no início dos anos 1990: “More than words”, do Extreme.

Não finja que não sabe de que música eu estou falando. Ok, se você tem menos de 18, talvez eu acredite que você realmente não conhece essa música. Mas então, você não deveria estar lendo este blog....

Plena segunda-feira

grafite em muro na Fonte da Saudade, Rio. Foto: Leandro Wirz



“O sexo contém tudo, corpos, almas,
Significados, provas, purezas, delicadezas, resultados, promulgações,
Cantos, ordens, saúde, orgulho, o mistério materno, o leite seminal,
Todas as esperanças, favores, dádivas, todas as paixões, amores, belezas, delícias da terra,
Todos os governos, juízes, deuses, pessoas acatadas da terra,
Estão contidos no sexo como partes dele mesmo e justificações dele mesmo.”

Walt Whitman (1819-1892)

domingo, 14 de setembro de 2008

Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe...

O nascimento de Vênus - W.A.Bouguereau



Semana passada, o jornal O Dia repercutiu matéria sobre uma americana de 22 anos, codinome Natalie Dylan, que está leiloando sua virgindade. A moça, morena jeitosa, quer usar o dinheiro para pagar a faculdade. Vai conseguir bons lances, porque exceto entre as muitos religiosas e/ou as muito feias, poucas são as mulheres ocidentais que hoje em dia chegam a essa idade sem jamais terem feito sexo com penetração vaginal.

Moderninha, ela tentou fazer o leilão pelo site e-bay que, por razões morais e questões legais, recusou o serviço. Então, ela vai fazer no velho estilo, no tradicional bordel Moonlite Bunny Ranch, distante 7 horas de Las Vegas. Quem quiser, pode tentar antes a sorte nos cassinos, para ver se aumenta seu cacife para o leilão.

Além de gostar dos holofotes da mídia, a moça é lúcida e provocativa ao dar entrevistas. No programa de TV “The Insider”, Natalie declarou: "Não acho que leiloar minha virgindade irá resolver todos os meus problemas, mas irá dar alguma estabilidade financeira. Estou pronta para controvérsia, sei o que virá por aí. Estou pronta para isso. Vivemos numa sociedade capitalista. Por que eu não posso ganhar com a minha virgindade?".

E aí chegamos ao ponto. Seu iminente defloramento faz aflorar (ai, trocadilho!) questões morais interessantes e polêmicas. Qual o valor da virgindade? Que diferença faz vender a primeira vez e vender as vezes subseqüentes? A perda da virgindade para uma mulher ainda é algo ritualístico, no qual se espera que haja amor e delicadeza? “Pagar os estudos” é um motivo nobre, que reduz a “perversidade” de seu gesto ou mesmo a absolve, perante os olhos moralistas da sociedade? Na mesma linha de nobres motivos, podemos enquadrar “comprar uma casa para a minha mãe”, “comprar os remédios do meu pai doente”, “garantir a educação e o sustento dos meus filhos”. Eles tornam aceitável a prostituição? Há diferença moral entre cobrar R$ 10 pelo programa ou R$ 5 mil? Ou é só questão de preço? Leiloar o corpo em público, colocando-se deliberadamente no papel de produto, é mais sórdido do que estabelecer uma relação de negociação discreta com apenas um cliente? A assunção pública de exercer a mais antiga profissão do mundo é um ato de coragem? Ou de “sem-vergonhice”? Esperamos das prostitutas o mesmo que das “moças direitas”, ou seja, desinibição na cama e discrição fora dela? A atitude de Natalie é um retrato de nossos tempos, em que os valores morais se fragilizam e o afã por conseguir seus quinze minutos de fama se impõe a tudo? O leilão eletrônico (via internet) é apenas a atualização dos meios de se fazer transações (ai trocadilho!) comerciais?

Já teve gente que transmitiu sua primeira transa pela internet, filmada toscamente. Vai gostar de aparecer assim lá na ... O próximo passo pode ser Natalie tentar vender para algum canal por assinatura a transmissão ao vivo da sua primeira noite. Será páreo em audiência para a final do Superbowl? Não creio.
Não exploro, nem estimulo a prostituição, mas a Natalie Dylan tem o direito inalienável de fazer o que quiser com o seu corpo: dar, vender, emprestar, alugar ou...leiloar.

sábado, 13 de setembro de 2008

Madonna mia



Consegui de primeira, por telefone, ingresso para o show-extra da moça. O processo de compra via call center durou 14 minutos e foi feito pouco depois das 3 horas da manhã. Depois dos maus-tratos impostos aos consumidores na primeira rodada de vendas, a empresa organizadora melhorou a qualidade dos serviços.
A gente se vê na pista...

Mas antes, tem R.E.M em novembro.

Sobre nomes, pontes e votos

Ponte dos Ingleses, Fortaleza. Foto: Leandro Wirz



Arthur Dapieve, que escreve para O Globo às sextas, encerrou sua coluna de 12.09.2008 assim: “A Justiça poderia começar a organizar a suruba eleitoral brasileira negando registro a essa palhaçada de candidatos a qualquer coisa se “identificando” por Beltrano da Birosca, tia Fulana ou Doutor Sicrano. Não dá para votar em quem não tem nome e sobrenome.”

Não assisto ao horário político gratuito na TV e não vou desperdiçar o meu tempo procurando aberrações de todo tipo entre os candidatos. Mas li hoje na coluna “No ar”, da jornalista Daniela Name, que um candidato em BH usa o nome de Tomaz Rola Bosta. Rola Bosta não é seu sobrenome, é o nome de sua empresa, uma desentupidora. Dapieve tem razão, a Justiça Eleitoral deveria obrigar o candidato a usar o seu sobrenome. Ah, tá, “bosta” é marketing. Existem pessoas que tem m... na cabeça.

Seria cômico não fosse trágico o desfile bizarro de candidatos e propostas políticas implausíveis. Figuras grotescas, saídas de circos dos horrores, vomitam promessas absurdas e levianas, com o intuito único de enganar os eleitores.

A Folha de S.Paulo, versão on-line, deu matéria no último dia 3 sobre um candidato à prefeito de Natal, chamado Miguel Mossoró, que propõe construir uma ponte entre Natal e Fernando de Noronha. De acordo com o Comando da Marinha, essa ponte teria que ter 361 Km de extensão, equivalente a 27 Pontes Rio-Niterói, com seus 13,3 Km.

Para defender a viabilidade de sua proposta, o candidato que se define como “político de idéias novas” afirmou que “se os europeus fizeram túnel embaixo do mar, por que nós não podemos fazer uma ponte como essa?”. É bom lembrar que o túnel ao qual o candidato se refere, que liga a França à Inglaterra, sob o Canal da Mancha, tem 50 Km de extensão.

A Justiça decidiu não impugnar candidaturas de quem responde a processo. Somente aqueles condenados em última instância, com a sentença tendo transitado em julgado (acho que é esse o termo jurídico correto) é que estão impedidos de concorrer. Mas vamos combinar que 100 candidatos que respondem a acusações de homicídio é muito para qualquer faroeste. Até mesmo para este, caboclo.

Com o exemplo vindo de cima, que tipo de pessoa está se candidatando neste País?
Felizmente, o povo pode escolher seus representantes legítimos pelo voto. E garimpar alguém que seja sério e honesto. Para que não se construam pontes do nada para lugar nenhum. E para que embaixo das pontes não morem pessoas sem nome.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Enquanto isso...

Arte em muro na Rua Voluntários da Pátria. Foto: Leandro Wirz
Os muros falam
e as paredes têm ouvido.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Nova era

Jovens conversam no Brooklyn, enquanto fumaça surge das Torres Gêmeas em Nova York. O fotógrafo Thomas Hoepker levou três anos para publicar esta imagem simultaneamente plácida e perturbadora. Entretidos em seu bucólico passeio, eles não se deram conta do que acontecia? Ou eram indiferentes?

A foto está na mostra I Contemporâneo em cartaz em Sampa. Quando: de quinta a domingo (14/ 9), das 14h às 21h Onde: shopping Iguatemi - 9º andar Quanto: entrada franca.


Hoje, faz sete anos que começou o século 21.

E a vida continua...

Almoço livros



Eu sou chato por várias razões. Por várias virginianas manias. Como deseducadamente rápido e aproveito o restante do horário de almoço para andar por aí, flanar mesmo. Quando o sol escalda minha careca, eu me refugio nalguma livraria. Não vou dizer que sou rato de livraria, porque ratos são nojentos.

Mas eu fico por lá, fuçando entre prateleiras, mesas, balcões. Olho, pego, cheiro, folheio. Orelhas me seduzem facilmente. Quero comprar vários, mas a voz da razão me faz pensar na fatura do cartão e nos livros que já tenho e que estão amargando a fila para que eu os leia. Tenho mais livros do que dou conta de ler.

Freio meu impulso consumista. Mas permaneço ali, meio atônito por não conseguir acompanhar tudo que há e por não conseguir guardar, ao menos na memória, nem a metade do que eu gostaria.

Meu fascínio mesmo é por capas e títulos. Deve ser vício de publicitário, sempre atento ao primeiro impacto vendedor. Na rodada de hoje, dois livros me chamaram a atenção.

“São Diabo” tem uma foto de capa linda e perturbadora. É inquietante ver os pés femininos elevando-se sobre o que parece ser um muro. A impressão é que ela está naquele momento limite em que, puxada por uma corda presa ao seu pescoço, seus pés deixarão de tocar a base e ela será enforcada. A antítese do título também é provocadora, destrói o maniqueísmo e as fronteiras entre bem e mal.

"São Diabo" reúne uma coleção de personagens insólitos e intensos, mergulhados em situações tragicômicas, que oscilam entre a razão e o devaneio, o bem e o mal. Com ele, Manfredo Kempff nos mostra um mundo cheio de contrastes mágicos e, ao mesmo tempo, terrivelmente real." (sinopse extraída do site da livraria Siciliano)

O outro livro (edição em dois tomos) me atraiu pela inversão do título: “A volta ao dia em 80 mundos”, de Júlio Cortazar. A edição é bem feia, mas pela sinopse (confira a seguir), a leitura é bem interessante. O conteúdo tem várias semelhanças com os de um blog miscelânea.

Pela primeira vez publicado no Brasil, A volta ao dia em 80 mundos representa uma nova forma de fazer literatura na América Latina. Dividido em dois volumes, rompe com o modelo clássico de narrativa e apresentam ao leitor uma coletânea de citações, recortes de jornais, ensaios, contos, poemas e comentários alternados com ilustrações e fotografias que tratam de temas diversos como boxe, política, novas técnicas culinárias, Paris, sadismo, entre outros. Os textos, valorizados pela primorosa tradução de Ari Roitman, foram reunidos numa edição que respeitam os formatos originais dos livros, tal como foram pensados pelo autor. Certamente irão se tornar obras fundamentais na coleção de qualquer admirador de literatura.” (sinopse extraída do site da livraria Siciliano)





terça-feira, 9 de setembro de 2008

Quando a poesia realmente fez folia em minha vida...


estes são meus livros, por enquanto....



Conheça meu outro blog, onde publico poemas.
www.leandrowirz.blogspot.com

fuckin' Phelps


O cara nada mais rápido do que todos...
Superou aquele outro famoso nadador (dos anos 80, eu acho), o Mark Spitz.
Desculpem-me, não pude resistir ao trocadilho/piada infame....

domingo, 7 de setembro de 2008

O tempo fechou entre Juba e Lula


Ou seria entre Júlio e Lula? O goleiro da seleção brasileira versus o presidente da república? Ou seria entre Dunga e Lula? O técnico e o presidente?

Lula é um presidente popular. E gosta de falar como homem do povo, como se conversasse no boteco, tomando uma branquinha com seus antigos companheiros metalúrgicos. Como bom brasileiro, acha que entende de futebol. Afinal, somos um país de 150 milhões de técnicos. Certamente, quase todos melhores do que o Dunga.

Corintiano declarado, peladeiro de final de semana, Lula disse nesta semana admirar o argentino Messi, tido por ele como o melhor do mundo na atualidade, porque além de jogar muita bola, tem raça.

Irritado, o goleiro Júlio César respondeu: “Acho que o Lula deveria virar argentino, morar na Argentina e renunciar à presidência. Talvez o Brasil melhorasse alguma coisa.”

A turma do deixa-disso entrou em campo rapidamente e 24 horas depois a CBF pedia desculpas e o goleiro também, só que de um jeito mais malandro. Disse Júlio César ao jornal O Globo: “Aproveito para pedir desculpas ao presidente. Mas seria legal se ele fizesse isso também. Peguei um pouco pesado, mas é minha opinião.”

É isso, Júlio César, é exatamente isso: apenas a sua opinião. Como a admiração por Messi é apenas a opinião do Luiz Inácio. E este, felizmente, é um país livre.

Não foi a primeira vez que o tempo fechou entre o presidente e o escrete canarinho. Na última Copa, Lula comentou que tinha ouvido dizer que Ronaldo Fenômeno estava gordo. O que, cá entre nós e a torcida do Flamengo, era visível. Ronaldo retrucou dizendo que já tinha ouvido falar que Lula bebia muito, mas nunca comentara sobre isso.

Lula falou como torcedor. Não como presidente da república. Falou como o homem do povo que discute acaloradamente futebol com os amigos. E os jogadores que se sentiram ofendidos responderam no mesmo tom elevado (ou baixo, depende do ponto de vista). O fato é que não há necessidade de pedidos diplomáticos de desculpas de nenhum dos lados. Não houve nenhuma agressão às instituições, nem nenhum desrespeito à autoridade. Houve tão somente um bate-boca entre brasileiros apaixonados por futebol. A paixão nos infantiliza.

The Road Not Taken

Penedo. Foto: Leandro Wirz



Quando eu era adolescente, minha mãe me apresentou a este poema do norte-americano Robert Frost, escrito em 1915. Imediatamente, tornou-se meu poema de cabeceira e pautou algumas de minhas escolhas. Publico o original em inglês, seguido de uma tradução livre.

THE ROAD NOT TAKEN

Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then took the other, as just as fair
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that, the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
two roads diverged in a wood, and I -
- I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.


A ESTRADA NÃO SEGUIDA

Duas estradas divergiam em um bosque amarelo
e lamentando não poder seguir por ambas
e ser um viajante, longamente eu permaneci
e olhei uma delas até o mais longe que pude,
para onde ela sumia entre os arbustos.

Então, segui a outra, igualmente bela
e tendo talvez clamor maior
porque era gramada e convidativa;
Embora quanto a isso, as passagens
houvessem lhes desgastado quase que o mesmo,

e ambas naquela manhã se estendiam
em folhas que nenhum passo enegrecera,
Oh, eu guardei a primeira para um outro dia!
Contudo, sabendo como um caminho leva a outro,
eu duvidei de que um dia voltasse.

Eu estarei contando isso com um suspiro
a eras e eras daqui:
Duas estradas divergiam em um bosque, e eu –
Eu escolhi a menos percorrida,
e isto fez toda a diferença.


Quando lecionei Ética e Legislação Publicitária, eu costumava encerrar o semestre letivo com estes versos. Afinal, falamos de liberdade, de responsabilidade, de escolhas, de ousadia e da possibilidade de fazer um mar de coisas de um modo diferente. Esta postagem é dedicada à minha ex-aluna Valentina Slaviero, que parte hoje para fazer pós em marketing em Barcelona. É que desde que aprendeu este poema, Valentina vez ou outra o declama em noites etílicas pelos bares de Brasília.

sábado, 6 de setembro de 2008

Ronaldo Fenômeno é uma caixinha de surpresas

foto baixada do site oficial do jogador


Ronaldo Fenômeno é um homem surpreendente. Pensa bem. O garoto despontou no São Cristóvão e ganhou fama no Cruzeiro. Depois, Seleção Brasileira e trajetória internacional: PSV, Barcelona, Internazionale, Real Madrid sempre fazendo gols sensacionais.

Sem fazer nenhum esforço de memória, puxo alguns fatos, além dos gols, que nos deixaram pasmos, para o bem e para o mal: a galeria de mulheres lindas que viram nele muito mais do que os “dentinhos separados”, charme que a maioria de nós jamais enxergou; aquele corte de cabelo ridículo, estilo Cascão, personagem do Maurício de Souza, com o qual ele apareceu em uma Copa; a convulsão na final da Copa de França, em 1998; a vez que urinou, protegido pela bola, sentado em pleno círculo central do gramado; a superação de duas gravíssimas contusões nos joelhos, quando muita gente condenou sua carreira ao fim precoce, vaticinando-o de “bichado”; o casamento estilo conto-de-fadas em castelo, com direito a deslumbramento total de noveau-riche, com modelo famosa; o divórcio-relâmpago; o constrangedor episódio da farra no motel com três travestis.

E finalmente (pelo menos, por enquanto) o evento que me motivou a escrever este texto. Ronaldo esteve nesta semana numa palestra sobre Machado de Assis no Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro. Esteve mesmo! Saiu no jornal e eu chequei com as fontes. Ronaldo Fenômeno é um homem surpreendente.

Isso me faz concluir que a Fiat deveria contratá-lo como garoto-propaganda. Seria perfeito para aquela campanha publicitária: “Está na hora de você rever seus conceitos”.

Será que Amy chega aos 27?














E por falar em roqueiros geniais mortos precocemente, vamos falar de Amy Winehouse. Não, felizmente ela ainda não morreu. Mas parece estar se esforçando muito para isso acontecer antes até dos 27 (leia a postagem Forever 27) . Com a ajuda da mídia sensacionalista que fica em cima full time esperando como urubu o desfecho dessa crônica de uma morte anunciada.

Pena. Amy é, de longe, a melhor cantora da primeira década deste século. Vamos torcer para que ela consiga largar os vícios (drogas, álcool e o marido-problema) e continue esbanjando talento.

As fotos ilustram a decadence sans elegance da cantora. E servem como alerta.

Forever 27

poster da exposição
Forever 27 (Para sempre 27) é o nome da exposição de fotos que acontece de 21 de agosto a 9 de novembro de 2008 na galeria Proud Camden, em Londres.

O foco, claro, fica nos cinco mais carismáticos e geniais que morreram com essa idade: Brian Jones (Rolling Stones), Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison (The Doors), e Kurt Cobain (Nirvana). Jones, recém-saído dos Stones, apareceu boiando na piscina de casa em 1969; Hendix morreu de overdose de pílulas para dormir em 1970; Janis exagerou na dose de heroína alguns meses depois; Morrison morreu em circunstâncias pouco claras, na banheira, em Paris, 1971; e Cobain suicidou-se com um tiro na cabeça em 1994. Tem mais de 30 roqueiros que se foram na mesma idade. É a idade maldita do rock.

Em Forever 27, podem ser vistas obras de fotógrafos que ganharam fama nadécada de 1960, como Phil Townsend, Steve Double, Jill Gibson, Elliot Landy e Joe Sia. Os organizadores, Proud Galleries, dizem buscar apresentar trabalhos fotográficos de alta qualidade a um público mais amplo, ao montar exposições com temas populares como música, cinema, moda e esporte. É, sem dúvida, uma ótima estratégia para atrair um público mais jovem e pouco afeto a freqüentar museus e galerias.

Se você pretende ir ao Velho Continente, não deixe de visitar a exposição, que tem entrada franca. O tema tem a ver com a mítica do rock e alguns artistas ícones do estilo. Tomara que alguma instituição cultural brasileira resolva trazer a exposição. It’s only rock’n’roll, but I like it.

Eu só queria ver...

foto: Madonna, na turnê anterior, Confessions on the dance floor


Desde que anunciado o show da Madonna no Rio, pela turnê Sticky & Sweet, fiquei na expectativa. Sou admirador da artista e da marqueteira desde o início da carreira lá em meados dos 1980. Ela sabe sempre se reinventar e permanecer atual, fazendo pop de altíssima qualidade.
Como em 2006 fiquei quatorze horas na fila para comprar ingressos para o show Vertigo, do U2, no Morumbi, fiquei feliz com a possibilidade de não ter que repetir o calvário desta vez e comprar as entradas civilizadamente pelo site. Fiz o meu cadastro com antecedência e desde o primeiro instante das vendas, tentei comprar incessantemente os ingressos. Sistema travado, servidores que não dão conta do volume de acessos (ou tentativas de) simultâneos ao site, central telefônica inoperante.

Não fui o único a me dar mal com a incompetência, o despreparo e a falta de planejamento dos organizadores. Um mar de gente também tentou arduamente e não conseguiu seus ingressos. Milhares conseguiram, mas é certo que com sofrimento. E outros estão na dúvida, apreensivos, porque os valores foram debitados em seus cartões, mas não receberam a confirmação. E ainda têm que esperar a remessa via postal dos ingressos. Bem-aventurados os guerreiros que viraram a noite na fila e saíram com seus suados tickets em mão.

Lição aprendida. Neste país, com amadores atuando no showbizz, só dá para comprar ingressos para espetáculos concorridos da velha forma: penando horas na fila. Ou valer-se de outra tradição: comprar, a preços extorsivos, nas mãos dos, digamos, “agentes de eventos”. O que não recomendo.

Enquanto isso, a gente lê no jornal que neste Reino Encantado das Celebridades, casal de playboy + modelo espera ganhar dez convites para levar os amigos. E o pior é que provavelmente ganharão.

Ana Carolina canta que a comeu. Pô, eu sou bem menos pretensioso. Eu só queria ver a Madonna....

Bom show pra quem for!

ps.: acabam de anunciar show-extra no Rio. Será numa segunda-feira. É uma bela maneira de começar a semana. Te encontro na fila, porque via web, vc sabe...

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Fiz blog

foto Museo Gaudi, Barcelona - Leandro Wirz

Então, tá. Fiz 40. E o que fiz?

Fiz uma bela viagem e mudei de casa. Como já sou bem casado, não tive dúvidas: comprei uma bicicleta. Meu projeto era me presentear com uma Harley, mas a bike tem a vantagem de ser ambientalmente correta e menos arriscada para a saúde.

Nenhuma tattoo nova, por enquanto. Satisfeito com as cinco atuais. Livro novo, não escrevi. Não estou satisfeito com os cinco atuais. Mas publicar poesia - ao menos em livro, papel impresso – é uma inutilidade e uma insanidade. Acho isso hoje. Um dia, mudo de opinião.

Orei para agradecer esses afortunados, intensos, 40 e raspei a cabeça. Para arejar as idéias e fazer um style, passei a máquina geral. Nada mais ridículo que tentar disfarçar calvície. Careca assumidíssimo. Viva Bruce Willis!

Fumar, faz ano e meio que parei. Mas vamos pular essa parte, porque periga essa conversa me dar vontade de acender um cigarrinho. Parei antes dos 40, mas aos 80, já na prorrogação e nos pênaltis, eu volto. Para este segundo tempo da vida, eu quero estar cheio de fôlego.

Diziam que a vida começa aos 40, mas os 60 hoje é que são os novos 40. Clichês e aforismos a parte, resolvi começar um blog. Não para expor a minha vida, neste voyeurismo digital de nossos tempos orwellianos e narcísicos. Muito menos para ele parecer “querido diário”, porque não tenho nem idade, nem estômago para expor minha vida esse tanto. Neste meu reveillon pessoal, dou o pontapé inicial no blog para que seja meio de expressão e de divulgação de um mar de coisas legais que circulam por aí. E conter, inclusive, clichês e aforismos.

O nome do blog foi sugestão bem-vinda da minha mulher, filha de Iemanjá. Está feito o convite à navegação, com portos abertos às nações amigas.